POETA FRANCIS GOMES

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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A Dura e cruel realidade

Órfão

Observo luzes piscando em vários lugares.
Em edifícios, em casas, em árvores.
Formando figuras em diversas cores.
Verdes, azuis, vermelhas, amarelas,
Em forma de anjos, estrelas, sinos e velas.
Enquanto martirizo-me nos meus dissabores.

Crianças em suas casas olham para o céu...
Pedem não a Deus, mas a papai Noel,
O presente de sua ilusão.
Todavia eu, sem casa, sem lar,
Suplico, imploro, para ver se alguém me dá,
Um mísero pedaço de pão.

Quem pode, compra pernil, peru para a ceia.
Vinho, champanhe, tudo que a carne anseia.
Viaja, festeja, comemora.
E eu, sem amigos, sem família, sem ninguém,
A espera de um presente que não vem,
Sem honra vou mendigando pelo o mundo afora.

Uns compram, não porque precisam, por vaidade.
Eu, eu vendo minha dignidade,
Pelo o preço que a fome cobra.
E fazendo parte deste abandono,
Sinto-me um cão esquecido pelo o dono,
Comendo das migalhas que lhe sobra.

Todos, todos olham as luzes piscando,
Mas para mim, quem está olhando?
Eu me pergunto olhando para o céu.
Senhor, Senhor não me queira mal,
Observe, observe Senhor, é época de natal,
Mas onde está meu papai Noel?

Ah! Perdoe-me, é que às vezes eu esqueço,
Que ele não sabe meu endereço,
E por isso não pode me atender.
É que nesta angustia que me abrasa,
Eu esqueço que não tenho casa,
Nem chaminé por onde ele possa descer.

Todos, todos tem o direito de nascer,
Tem o direito de viver
Mas ninguém tem o direito de ser esquecido.
Se eu soubesse que viver era tão ruim,
Que até papai Noel se esqueceria de mim,
Eu juro, juro que não queria ter nascido.

Por que, por que, que mamãe não me abortou?
Já que ao nascer me abandonou,
Como se eu fosse à perdição de sua vida!
Porque melhor me fora não ter nascido,
Do que nascer para depois ser esquecido,

Como uma coisa que alguém deixa caída.

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